Afro-Reflexões é o título de um livro fascinante do Historiador e Teólogo Walter Passos. Neste livro, o leitor pode encontrar os mais diversos assuntos sobre africanidade e contemporaneidade.

domingo, 16 de maio de 2010

Responsabilidade Frente à Família Africana - Parte I


Histórico

A máxima conseqüência obtida pelo sistema escravista foi a destruição do núcleo familiar africano. Essa destruição ocorreu através de processos sociais e psicológicos complexos, iniciados na invasão do continente-mãe e perpetuados nas conseqüentes mazelas encontradas na dinâmica social contemporânea dos afro-descendentes.

Notório que o substrato do modo de vida dos primeiros habitantes do globo transformou-se em degradadas relações, destituídas de espiritualidade, cumplicidade, herança e amor.

Assim sendo, cada integrante do núcleo familiar africano traz consigo determinados traumas construídos pela vivência em ambiente escravista e, posteriormente, pelas condições submetidas pós-escravização, bem como costumes errôneos, caucasianos e deformados que se integraram à cultura e a educação desta população africana seqüestrada.

O tráfico de escravizados africanos para as Américas iniciou-se ainda no século XV, com a primeira leva de escravizados enviados ao cativeiro dentro da dominação espanhola. Pouco tempo depois, os portugueses e demais nações européias, apoiadas pela Igreja – instituição de maior poder e representatividade da época - executaram o maior genocídio da história da humanidade, culminando na morte de duzentos milhões de pessoas dentro do continente africano, em resistências regionais contra o tráfico humano. Essas resistências possuíam por base a união da coletividade contra a imperiosidade do escravizador. Tal unicidade acontecia principalmente em nível familiar.

Conforme é conhecido, o entendimento de família africana abrange a uma coletividade comunitária (aspecto preservado no Brasil por camadas sociais pretas até meados do século XX, aos poucos substituído pela inconteste mitigação dos valores africanos), sendo esta consciência solidária que preservou com vida milhões de africanos do extermínio nas investidas caucasianas.


Entretanto, submetidos ao julgo da escravidão, essa unicidade fora suprimida pelos traumas vivenciados diariamente e pela substituição gradativa dos costumes africanos frente à necessidade de adaptação aos interesses dos colonos, culminando na real inversão de valores da família africana. Esse contexto promoveu o nascimento de desconhecidos títulos sociais dentro da comunidade africana escravizada, como exemplos pode-se citar o Escravizado Reprodutor, as Amas de Leite, o Capitão-do-Mato, os Feitores, os escravos da Casa Grande.

O estudo do impacto que cada agente social supra descrito é essencial para compreender o processo de degradação da família africana e a irresponsabilidade dos integrantes do povo preto em sua constituição.

Além disso, outros diversos aspectos também foram indispensáveis para a configuração desse quadro deplorável que a família preta se encontra, pode-se citar entre eles, a ingestão de álcool, obrigatório na dieta do escravizado, bem como a separação dos bebês das mães logo após seu nascimento.

Nessa conjuntura, esse ensaio se predispõe, a cada quinzena (assim pretendo, caso consiga tempo), uma análise das causas e conseqüências da degradação familiar africana, além de, principalmente, elucidar a nossa responsabilidade quanto africanos em diáspora frente a essa realidade, conscientes de que a formação e manutenção da Família Preta são as primeiras atitudes revolucionárias da comunidade africana em diáspora.



Um comentário:

  1. Parabéns pelo excelente blog. Além de muito interessante e útil, é bem colorido e organizado.

    ResponderExcluir